“Não realizei sonho nenhum (…)”, foi com essa frase que Reginaldo, sepultador, abriu sua fala para o SPInvisível. Fala essa que representou milhões de brasileiros esquecidos e ignorados pelo país a fora.
“Não realizei sonho nenhum, nunca tive casa própria, carro, nada. Só comi e vivi. Com os 997 reais que ganho, não tem como fazer financiamento.
Na pandemia trabalhei todos os dias. Aliás, nunca faltei! Aqui não mudou muito, não, até diminuiu. É um cemitério de classe média, né? Podem se cuidar…
Uma pessoa dessa região pode ficar em casa. A da Vila Formosa fica como? Vai passar fome?
” “Ah, o governo deu 600 reais” “
Quem vive com 600 reais? O pobre pega o vírus e morre! Aqui ninguém pegou. Ainda bem, né? Fora isso, só falta o governo olhar o salário. O meu holerite é a mesma coisa há 15 anos. Nosso salário é uma vergonha!
Tem família aqui que gasta 30 mil num sepultamento, 50 mil. O mundo é assim, uns têm muito e outros têm pouco…
Vizinho meu passa fome. Agora o vereador ganha 30 mil reais, tem auxílio disso, daquilo, e eu não tenho nada. E se quebra a previdência, a culpa é nossa!
Se tive medo? Nenhum. Na TV falam que, quem trabalha em serviço essencial, tem que arrumar lugar pra ficar. A gente “malemá” paga as contas. Fácil falar, quero ver viver nossa vida…”
Reginaldo de Oliveira, sepultador, 50 anos
Esta é uma das 100 histórias de pessoas invisíveis em nosso livro A PANDEMIA QUE NINGUÉM VÊ. Conheça as outras histórias em:
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Fonte do texto e da imagem: página SP Invisível, no Facebook
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